15 de ago. de 2013

O misterioso desaparecimento de um estudante de direito em SC

Everton Luiz  da Cruz - TON - Desaparecido

As fotos acima, foram tiradas poucas semanas antes do desaparecimento. Nelas,  Ton está com minha filha e amigos da faculdade, alegre, brincalhão e feliz com o curso de Direito que frequentava na Univali do Kobrasol (SC). Esforçado, ele se destacava entre os melhores alunos  da sala e tudo indicava que teria um futuro brilhante. Além disso, trabalhava como instrutor em uma academia e morava no mesmo terreno da sua tia, Jurema de Lourdes dos Santos, a quem tratava como mãe. Naquele último domingo à tarde, em agosto de 2011,  quando atendi o telefone, era ele. Brincalhão como sempre, estava alegre e queria combinar  os últimos detalhes do trabalho da faculdade com a Juliana, minha filha, que eles  apresentariam juntos naquela segunda-feira.

No dia seguinte, ao voltar  da Faculdade, Juliana falou preocupada: “Não sei o que houve, o Ton 
não apareceu, vai perder a nota do trabalho.” Preocupada, principalmente porque ele nunca faltava, tentou várias ligações para o celular dele, mas não atendeu. Na terça-feira, pela manhã, ela ligou para a Academia  onde ele era instrutor e lá informaram que não foi trabalhar no dia anterior.

Ao saber disso, passei a sentir uma sensação muito  ruim. Ton desapareceu? Não, não podia ser! Às vezes, fico meio paranoica ao ver tantas pessoas desaparecendo e Ton conhecia este meu trabalho junto aos desaparecidos, ele jamais brincaria com algo tão sério. Mas naquela terça-feira ele também não apareceu na aula e no dia seguinte, a tia Jurema confirmou que não o viu mais depois de domingo.

Surgiu um boato, de um amigo, dizendo que ele já havia sumido uma vez, por depressão, mas não ficou mais que uma semana ausente. Preocupada com as faltas que ele iria  levar, colocando em risco  perder aquela Bolsa do Curso de Direito, decidi ligar para a Faculdade e avisei que ele estava desaparecido, que  fosse notificado para que ele não ficasse prejudicado pelas faltas quando  voltasse. 

Naquela semana surgiram muitos boatos, dos mais variados.Uns diziam que ele havia brigado com a namorada, outros que ele havia discutido com o irmão no domingo à noite, outros que  estava depressivo. Uma antiga namorada dele,  me confidenciou que ele sempre se queixava de fortes dores de cabeça,  mas que nunca falou disso para os parentes para não preocupá-los e ela achava que ele poderia ter passado algum mal súbito.

Nisso se passaram duas semanas e os boatos davam conta que ele  foi visto em vários locais diferentes da cidade e ainda que estava sendo cuidado na casa de um casal amigo. Estes boatos vinham da parte de amigos que o conheciam e todos foram averiguados,  nada se confirmou.

Com dor no coração, fiz o primeiro cartaz do Everton (Ton) como desaparecido e lancei na rede com esperança que alguém pudesse  falar algo  positivo. Olhando o cartaz eu mesma não acreditava naquilo. Vinha-me a lembrança da voz alegre com que havíamos conversado naquele último domingo. Como alguém pode sumir assim? 

Um mês se passou, sem que tivéssemos uma pista concreta de onde ele poderia estar, então pedi para a Jornalista Mônica Foltran  (DC), para que fizesse uma matéria sobre o desaparecimento e foi publicado no  jornal em 29/9/2011. 

Tristeza imensa por não se ter respostas! Onde está o Ton? O que aconteceu com Everton Cruz? 

Teria sido acometido por uma depressão repentina, ou um desgosto muito grande que o fez abandonar tudo?  Estaria desmemoriado vagando a ermo? Teria sido assassinado? Se foi, onde estaria o corpo?

A depressão costuma causar uma série de prejuízos às pessoas, levando-as a abandonar família, estudo, trabalho e tudo mais. O Jorge Gustavo, desaparecido por dez anos, foi  um exemplo disso. Ficou vagando por estradas de uma cidade  à outra por mais de uma década. As estradas estão cheias deles, os andarilhos, pessoas que decidiram se isolar da sociedade, que seguem milhares de quilômetros,  pelas estradas sem fim, sem objetivo algum, apenas andam, andam sem parar. Eles não entram em cidades, quando  chegam  em um município, passam direto ou mudam o trajeto. Geralmente eles não estão documentados. O Jorge Gustavo, nos dez anos em que ficou vagando, atravessou quatro estados, PR > SC; SC > SP; SP>MS. Segundo ele conta,  os Km que ele andou seriam equivalentes a  três voltas em torno da Terra, em linha reta. 

Mas o Ton? Não creio que  esteja na estrada!

Há alguns meses, recebi uma ligação e uma pessoa contou que ao visitar o filho na Penitenciária da Trindade (SC),  teve absoluta certeza que um dos companheiros de cela era o Ton. A partir dessa informação, contatei o Major Marcus Roberto Claudino, da Polícia Militar e hoje coordenador do SOS Desaparecidos de SC, passei à ele a informação para que fosse averiguado, porém mais uma vez nada foi confirmado.

Perto de completar dois anos daquele fatídico dia, a rede  RicMais, transmite uma reportagem  emocionante com a família de Everton Cruz, o Ton, como o chamávamos.

Foi difícil assistir sem deixar a emoção aflorar ...  Este sentimento de impotência diante dos acontecimentos da vida, à qual não conseguimos respostas, é doloroso.  No caso do Ton, caberia uma investigação mais profunda, o que não aconteceu.  Muitos detalhes e controvérsias nesta história  levam a crer que algo de muito sério aconteceu à ele. Temos esperanças, que agora, com a implantação da Delegacia especializada para desaparecidos no estado de Santa Catarina as respostas comecem a surgir.

 Que Deus nos ilumine e esclareça toda verdade, fortalecendo o coração da tia Jurema nesta saudade interminável, assim como da Débora e da Elodi, irmã e tia, incansáveis na busca por respostas.

I.Amanda Boldeke / Agosto 2013
www.desaparecidosdobrasil.org















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